O POETA MATUTO (1)
Geraldo do Norte
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Geraldo do Norte, vivendo hoje em Suruí (RJ), é uma viva representação da diversidade cultural do Rio de Janeiro. Nascido em Parelhas, sertão do Rio Grande do Norte, Geraldo produz e reproduz em solo carioca a mais legítima poesia dos bardos nordestinos revivendo em seus poemas a saga de um povo que extrai da terra – sua mais recorrente fonte de inspiração – a matéria lírica e a essência sertaneja que projetaram em todo o território nacional nomes como Patativa do Assaré, Zé Limeira e Cego Aderaldo.
Geraldo do Norte tem o programa "No Tabuleiro do Brasil" que vai ar ar todos os dias, de 3h a 6h da manhã, sob o comando de Geraldo do Norte, na Rádio Nacional AM do Rio – 1130 kHz.
Raiz do bem
(O que vem de cima cai o que sai de baixo nasce)
(Geraldo do Norte)
“Enquanto houver no Jacaré
nossa raiz do bem... Um Pé de samba plantado em Xerém”.
É assim que o velho e bom Jorge Curuca homenageia seu
compadre Monarco, o Monarca do Samba (Jacaré, onde vivia à
época deste samba) e seu amigo Zeca Pagodinho (Xerém, dos heróicos tempos do
Pagode da Intendente).
O que vem de cima cai pesado, impondo, corrompendo e
destruindo. Impõe quando políticos atrás de votos liberam licenças e até
que, supostamente, aprenderam no lar. Por exemplo, dos “meninos da Mangueira,
que, “receberam no Natal um pandeiro e uma cuíca” e que havia um Papai Noel,
“moleque sarará, primo irmão de dona Zica”. Os meninos de nossas comunidades,
hoje, estão recebendo o chamado “proibidão”, com uma máquina em cada birosca,
tocado a toda altura. Em cada clube, toneladas de som, em cada colégio uma boca
de fumo e, quando se fecha algum antro destes, o digno empresário só muda a sua
parafernália para o endereço mais próximo. Ou seja: Tal baile vende 10 milhões
de porcaria a cada fim de semana e os investigados, garçons, seguranças, cozinheiros,
pagam o pato. O empresário e seu staff saem imunes. É essa uma das fórmulas de
destruição da cidadania, da verdadeira cultura.
Outra praga, as concessões de meios de comunicação, sem
qualquer controle do que vão oferecer à nossa juventude. É assim que se mata na
fonte o potencial de uma juventude.
Extinguiram os festivais de favela, os sambas de quadra
deixaram as escolas, os próprios sambas enredos caíram de qualidade. O samba
não morre mas agoniza nos escritórios, com “mecenas” ganhando em duas ou três
escolas sem saber rimar capim com passarim.
Enquanto isso, várias equipes de bailes espalham sua caixas
de maldades pelos quatro cantos da cidade, com a cobertura das TVs comerciais.
O esquema é sórdido: usam alguns trouxas da comunidade, e põem no horário nobre
para justificar o toque popularesco dos programas.
Mas aí eu me pergunto: Será que está tudo perdido? Tudo
caindo? Eu digo que não. Porque vale o que nasce, o que está
nascendo. Sim! No meio deste mesmo povo, nasce a resistência. Ninguém mata uma
ideia, mesmo que teatros e cinemas se transformem em negócios evangélicos;
mesmo que máquinas de Karaokês trabalhem contra os neurônios; mesmo que neste
negócio pestilento, no qual se inclui tráfico e milícias, felizmente,
repito...Felizmente alguns jovens já percebem o que é essa estrutura podre, e
sabem enxergar o que está nascendo, brotando em alguns espaços mambembes com
alguns quixotes de nossa arte como o sanfoneiro Camarão, como Dominguinhos,
Abianto, Tio Bilia, Mário Zan, Zé Correia, que inspiram milhares de meninos
sanfoneiros e abre assim, um caminho para a esperança. Maciel Melo os chama de
“Passageiros dos Circos da Ilusão”, mas com uma ilusão que constrói o sonho.
Cito ainda, como radialista de um programa que faz cultura e que respeita as
manifestações regionais, nomes como os de Gedeão da Viola, Tião Carreiro,
Renato Andrade, Helena Meireles, Zé Coco do Riachão, que pariram os violeiros
às centenas, porquanto os violonistas saiam das cordas de Mão de Vaca, Rosinha
de Valença, João Pernambuco, Albano da Conceição, Dilermando Reis, Baden, Dino,
Rafael... Lembremos outros mestres que inspiram a garotada que pode transformar
nosso Brasil em um país mais artístico e portanto, decente e fraterno:
Pixinguinha, Abel, Jacob, Waldir... Dos grandes grupos de Choro e dos santos
sambistas, Silas, Candeia, Cartola, Noel...
Como escreveu meu amigo Luiz Carlos Máximo: “Vozes do
subúrbio, pontos de luz na escuridão.”
E Viva o samba! Viva a cultura do povo!