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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

REFLEXÃO DE CARNAVAL - Flavio Oliveira do Salgueiro

TEMPO DE RECOMEÇAR (1)

Flávio Oliveira do Salgueiro

www.flavioliveira.com



Com mais de 20 anos na atividade musical, várias músicas gravadas e participação na formação de diversos grupos musicais, integrante da ala de compositores da escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, o advogado militante, com larga experiência em Direito do Trabalho, Flavio Oliveira faz palestras em Universidades, destacando-se a Universidade Estácio de Sá, com o tema “DO FORUM AO SAMBÓDROMO” “DA LINGUÁGEM FORENSE A LINGUAGEM DO SAMBA ENREDO”.

Como profissional do direito, transmite aos alunos toda a sua experiência e a importância da formação da linguagem técnica do advogado mas, mostra também a necessidade deste profissional em conhecer a formação da linguagem popular, entendendo-a e se fazendo entender, assim como ocorre com a confecção de um samba enredo, que é a forma mais popular da expressão da linguagem. Estas palestras, invariavelmente terminam com uma apresentação musical. Flavio Oliveira tem o seu site www.flavioliveira.com, visite e conheça mais sobre este artista


REFLEXÃO DE CARNAVAL


       Partindo da frase antológica de um dos mestres do samba,   Nelson Sargento da Mangueira, de que "O SAMBA AGONIZA MAS NÃO MORRE", vamos analisar o carnaval do Rio de Janeiro.

No início das atividades para o carnaval de 2013, onde as diversas agremiações  carnavalescas divulgam seus enredos. E como sempre, às diretorias afirmam de forma categórica de que nas suas agremiações, no que tange a samba enredo, "Vai  Ganhar o melhor" e, todos nós, sambistas convictos e praticantes, acreditamos que sim, mas, existem algumas questões que não encontram respaldo ou resposta para um raciocínio lógico, como por exemplo:

1 – Porque que todas, ou a maioria das escolas de samba abriram as suas alas de compositores? Se verificarmos a maioria dos autores dos sambas campeões, nos últimos anos, das diversas agremiações, não existe mais o compositor com a identidade da escola (estilo, linha melódica, letra), porque? Com raras exceções, a maioria dos sambas vencedores, não são assinados pelos compositores da escola, mas sim, por convidados. Com isso, após a escolha dos sambas, as agremiações ficam vazias, pois as torcidas organizadas e contratadas durante o certame desaparecem e, a partir de então, o samba escolhido, fica por conta das respectivas comunidades, que por muitas vezes e,  a contra gosto, ficam com a incumbência de engolir a obra escolhida, digeri-la e torná-la aprazível para o público em geral. Nem sempre conseguem.

 2 –Há que se questionar também, a maioria dos sambas de hoje são escolhidos pela sua qualidade? Pela devida descrição do enredo, com a melodia adequada?  Ou pela quantidade de pessoas que colocam na quadra? (torcida organizada, adereços, bolas, canhões de papel picado, patrocínio etc...), melhor dizendo, pelo investimento econômico? Isso sem contar com os valiosos e valorosos intérpretes profissionais contratados, que normalmente dão um brilho diferente da característica da escola, o que, depois da escolha, nem sempre funciona na voz do cantor oficial daquela agremiação e, no seu andamento de desfile.

 3 – Sem querer ser saudosista, não faz muito tempo em que os integrantes do departamento musical das diversas escolas (compositores, intérpretes, músicos, ritmistas) depois de muito tempo de janela e, de pleno exercício de suas atividades, eram convocados para  a ala de harmonia das suas escolas e, eram respeitados, pois todos da comunidade do samba tinham conhecimento do seu histórico naquela agremiação ou em outras e, foi assim que surgiram os consagrados diretores de harmonia. Tanto isso é verdade que, os craques do carnaval até hoje são respeitados e sabem o que fazem, como por exemplo, Laila, Chope, Sabiá, Xangô, e outros... pois,  no samba, assim como em qualquer atividade,  existe um diferença enorme entre iniciativa e peruada. A escolha de um bom samba é imprescindível para o sucesso de uma escola, pois, além do seu próprio quesito (samba enredo), ainda tem influência direta nos quesitos Harmonia, Evolução, Bateria, Conjunto, Mestre sala e Porta Bandeira, quesitos esses que necessitam de uma escolha acertada, para terem uma boa nota, ou melhor, não perder pontos.  Não basta a escola ter um bom enredo ou, a excelência em alegoria ou adereço.

 4 – Pelo que se vê hoje, a maioria das escolas, não dão o devido valor aos seus compositores e, por isso, não os utilizam naquilo que sabem fazer por vocação que é o samba e, a sua utilização na  harmonia (perfeita sintonia do canto com a dança; evolução tranqüila e harmônica, compactação das alas sem que se torne um desfile militar) com uma boa letra (síntese descritiva do enredo) com uma boa descrição  poética e, infelizmente, quem paga com isso, normalmente, é a própria agremiação. Que saudade dos grandes carnavais, como por exemplo, de Peguei o Ita no Norte, quando o Salgueiro explodiu o coração do País em 1983, do tricampeonato da Beija flor de 1976, 1977 e 1978, dos memoráveis campeonatos da Portela e da Mangueira; das disputas acirradas pela qualidade dos sambas do Império Serrano. Nessas ocasiões, a disputa dos sambas não se encerrava na quadra com a escolha na escola, pois após a decisão nas diversas agremiações, havia uma saudável disputa e concurso popular entre os hinos escolhidos antes mesmo do desfile oficial, sambas, que até hoje são cantados, passando por gerações, pois a qualidade do samba era a condição "sine qua non" para a sua escolha. Um alô de agradecimento e reconhecimento ao grande Baianinho da escola Em cima da Hora, Edeor de Paula dos Sertões, do Cabana na Beija Flor, ao Mestre Fuleiro, ao Paulo da Portela, Geraldo Babão,  Toco da Padre Miguel, Zé Catimba da Imperatriz, Silas de Oliveira, David Correa, Noca da Portela, Aluísio Machado, Zuzuca, Dede, Dida, Didi da União da Ilha e tantos outros, pela obra deixada... Fica aqui uma pergunta que não quer calar: Se (Silas de Oliveira, Cartola, Carlos Cachaça, Geraldo Babão, Toco, Dida, Dedé, Noel Rosa de Oliveira, e outros) se ainda estivessem vivos, teriam alguma chance nos concurso de samba de hoje? E porque que as suas obras se tornaram eternas?

 5 – E as alas de passistas, cabrochas, ritmistas que eram ovacionados pelo público nacional e principalmente, pelos turistas.  Hoje, está banalizada ou, nivelada por baixo, as atividades de passista, ritmista, mestre sala, diretor de carnaval ou de harmonia e, o que é pior, tem carnavalesco que não gosta de passistas e, por isso, proíbe que os mesmos ingressem com as suas roupas brancas em seus enredos (salve Vitamina do Salgueiro, saudade de Gargalhada, Delegado, etc..., que eram passistas e não coreógrafos). Há que se registrar a maior heresia, que constantemente assistimos, nos diversos ensaios e desfiles de algumas escolas, que são as baianas sendo obrigadas por jovens diretores a coreografar sua dança com passos marcados; rodando para o mesmo lado em determinada frase do samba e se voltam para o outro, no refrão seguinte, mãozinha pra cima, mãozinha pro lado, ou seja, um enorme desrespeito, as nossas mães baianas, entidade maior de uma escola de samba, que deveria merecer mais respeito daqueles que, com toda a certeza, desconhecem a história do samba, o papel e, a importância das baianas em uma escola de samba.

 6 - Mas, como o sambista não se entrega e nem esmorece, seguindo a frase do baluarte da Verde e Rosa Nelson Sargento "O samba agoniza, mas não morre", e não vamos deixar que morra. Pois não é possível que permitam que alguns alienígenas matem ou, descaracterizem a tradição do carnaval carioca, pois o carnaval, o samba, as escolas de samba, com todos os problemas existentes, ainda representam uma das maiores expressões da cultura desse País.

7 - Vamos aguardar a nova safra dos sambas, os enredos e, o desenvolvimento do carnaval para 2013, dando um voto de confiança aos dirigentes das diversas agremiações para que o carnaval de 2013 seja o melhor espetáculo da terra na acepção da palavra. Salve o Samba. E que, realmente vença o melhor.